Os 6 maiores equívocos entre a Umbanda e o Candomblé

“Candomblé é Candomblé,

Umbanda é Umbanda”

 

A Umbanda é uma religião brasileira, que nasceu aqui, no Rio de Janeiro, mais precisamente em São Gonçalo, há pouco mais de 100 anos.

Apesar de ser algo totalmente diferente do Kardecismo, do catolicismo e do Candomblé, recebeu influência de ambos sendo o último mais influente.

Porém, é preciso ter cuidado pra não misturar as estações!

Eu tenho visto constantemente muita confusão a respeito da Umbanda: mistura-se os conceitos, os preceitos, a ritualística em geral.
Na pratica, as pessoas confundem ou não sabem diferenciar.

Abaixo uma relação dos maiores equívocos entre essas religiões:

 

1- Cargo de santo

Uma polêmica que vai irritar muita gente!

Quando eu abro um jogo (de cartas) e vejo que a pessoa tem cargo, ela já entende que NASCEU PRA SER PAI/MÃE-de-santo, quando na verdade, ter cargo significa ter uma responsabilidade no Candomblé, e existem ali muitos cargos…

Você pode por exemplo, ter o cargo responsável pela colheita das folhas, pelo corte dos animais, pelo manejo das “coisas” de santo, pelas coisas jurídicas da casa, pelo cuidado com o Orixá do dono da casa, pelo cozimento das comidas, pelos fundamentos da feitura, e etc, etc, etc…

Ter cargo não significa que você necessariamente será dono de terreiro, ou melhor, não significa que você tem poder pra isso.

Bote sua vaidade no bolso e vá procurar um jogo de búzios decente, antes de sair por aí querendo botar a mão onde não alcança!

Montar terreiro de Umbanda qualquer um faz; mas ter axé de fato pra por a mão na cabeça dos outros já são outros quinhentos! “Seje menas!”

Diferente do Candomblé, os cargos na Umbanda são flexíveis.

Por exemplo:
Enquanto no Candomblé o jogo mostra o cargo de Ekédi, que é aquela que cuida do Orixá, na Umbanda qualquer pessoa pode ser um cambono, que é aquele que cuida das entidades.  Enquanto só mulheres são ekédis, homens e mulheres podem ser cambonos.

Também no Candomblé, a pessoa “nasce” sendo ogan; para quem não sabe, isso também é um cargo e o Ogan é um sacerdote também!
Já na Umbanda, qualquer pessoa que saiba tocar pode pegar no atabaque.  Existem terreiros que permitem até mulheres tocando, o que não existe no Candomblé.

 

2- Sacrifício

É preciso saber que o sacrifício é algo sagrado e extremamente delicado, que pertence aos fundamentos do Candomblé.

Você vai entender o ABSURDO que é cortar na Umbanda, quando entender que no Candomblé existe uma pessoa específica que nasce com um “cargo” pra isso; essa pessoa é designada para cortar os animais, SÓ ELA tem o axé e o aval pra isso.
Portanto, é o cúmulo da falta de noção incluir sacrifício na Umbanda.
Primeiro porque não é necessário.  Segundo porque não se tem fundamentos para tal, ninguém na Umbanda é PREPARADO PRA ISSO!

O uso de sangue pode ser extremamente perigoso do ponto de vista espiritual.

 

3- Pombagiras e Exus de Candomblé

Não existem!  Sim, é um equívoco acreditar que Maria Padilha ou Tranca Rua podem “ser” de Candomblé.
Quem está nos terreiros ouve sempre alguém dizendo “minha Padilha é de nação”, e mais coisas do tipo.  Pois bem, isso não existe!

Primeiro que o Candomblé é uma religião primitiva, que lida exclusivamente com Orixás (orisa, vodun e nkisi), que são forças da natureza.

Segundo que nos fundamentos do Candomblé é dado que eguns (espíritos dos mortos) são prejudiciais aos vivos, sendo por isso cuidadosamente afastados por meio de ebós e demais fundamentos.

Terceiro que, sendo estes Exus e Pombagiras entidades, que antes de tudo são PESSOAS, e como estão mortas são espíritos, você pode perceber que não se encaixam como força da natureza, não é mesmo?   Afinal, eles são pessoas que viveram há alguns séculos atrás, a maioria composta por homens e mulheres brancos, da idade média, não tendo absolutamente nada a ver com Orixás; acabam de certo modo sendo “antagonistas” do Candomblé, visto que são pessoas mortas.

Essas entidades surgiram na Umbanda e é nela que devem ser tratadas. Uma pessoa de Candomblé pode sim ter suas entidades, mas jamais deve mistura-las ao culto dos Orixás.

 

4- Sacrifício para Pombagira e Exu

Desnecessário, descabido e errado.
Sacrifício é utilizado apenas para “alimentar” Orixás e outros tipos de forças em outros cultos.

Pombagiras e Exus são entidades, espíritos de pessoas, que não tem a menor necessidade de beber sangue, nem de utilizá-lo para quaisquer fins, haja vista que já possuem o poder e luz necessários para trabalhar.

Inclusive, esse equívoco favorece muito a propagação de energias negativas, uma vez que se não são entidades de luz que estão recebendo o sangue, quem está?  Essa é uma das razões pela qual muita gente se prejudica sem saber.

 

5- Assentamento

Eu tenho vontade de rir quando me dizem que “assentaram” Orixá ou pior, EXU na Umbanda.

A pessoa que faz assentamentos no Candomblé, digo, que “constrói” os assentamentos, é o Babalaô.   Essas pessoas NASCERAM para serem Pais/Mães-de-santo, estudaram por no mínimo 7 anos para conhecer os fundamentos secretos e sagrados que constituem um assentamento, portanto, SOMENTE eles podem fazê-lo!

As ferragens nas casas de Umbanda servem única e exclusivamente como enfeite.

 

6- Orixá na Umbanda

No Candomblé, do tradicional ao “flexível”, é unânime a ideia de que Orixá não vem na Umbanda.

Na minha opinião, isso depende!

Eu mesma quando pus meus pés num terreiro pela primeira vez, acreditava piamente ser de Oxum, e inclusive, nutria antipatia pelo meu verdadeiro Orixá. Porém, quando tocou pra Iansã eu apaguei. Recebo-a até hoje, contudo, atribuo isso ao fato de ter nascido “pronta”, e sim, eu tenho cargo no Candomblé.

Eu acredito que alguns Orixás chegarão numa gira de Umbanda sim, mas não em todas as pessoas.
Também acho ilógica essa história de que se recebe “falangeiros” ao invés da energia do próprio Orixá.
Quem trabalha com Orixá, com entidades e com mortos sabe muito bem que a energia de cada um e até a respiração são diferentes!

 

É fundamental respeitar e agir de acordo com a liturgia de cada religião, pois a coerência evita problemas e desordens espirituais sérias.

Tanto o Candomblé quanto a Umbanda tem suas particularidades e especialidades que devem ser respeitadas.